quinta-feira, 15 de novembro de 2007





Torcedor do Vitória vestiu a camisa com orgulho

Salvador amanheceu rubro-negra ontem e a conquista da vaga para a Série A foi o principal assunto nos quatro cantos da cidade


Salvador amanheceu rubro-negra ontem. De vendedores ambulantes a executivos, passando por atendentes de lojas, cobradores de ônibus, taxistas, padeiros, entregadores de gás, a “metade” torcedora do Vitória na capital baiana foi às ruas vestida com a camisa do time, orgulhosa pelo retorno à elite do futebol brasileiro, conseguido no convincente 4x1 contra o CRB (AL), em casa _ um Barradão lotado com 30 mil pessoas _, na noite de terça-feira. “Esta camisa eu comprei em 2004 (ano em que o Vitória foi rebaixado para a Série B do Campeonato Brasileiro) e prometi que só ia usá-la de novo quando a gente voltasse para a primeira divisão”, disse o taxista Jairo Costa Matos, 26 anos, mostrando as pequenas manchas que a umidade e o tempo sem uso causaram no tecido. Pelas ruas e avenidas da capital baiana, grupos de amigos, antigos e recém-formados, abraçavam-se e pulavam, desde a madrugada de terça, cantando o refrão-tema do acesso, “Primeira, eu sou da primeira”, ao ritmo de Sorte grande (Poeira), sucesso da cantora Ivete Sangalo _ torcedora fanática do Vitória.
Nos carros, bandeirolas do time. Nas sacadas e janelas de casas e edifícios, panos vermelhos e pretos, sinalizando a presença do torcedor feliz. O acesso à Série A do Brasileirão é um novo capítulo, para o Vitória, de um ciclo de quedas e subidas sucessivas. Apenas três anos atrás, em 2004, o time estava na mesma Série A para a qual acaba de voltar. Terminou aquele campeonato em penúltimo lugar, o que causou a queda à Série B – onde encontrou o arquirrival Bahia (para quem torce a outra “metade” dos soteropolitanos). Em 2005, novo vexame, desta vez carregado de surpresa: o Vitória, em nenhum momento apontado como um dos ameaçados de rebaixamento, acabou caindo para a Série C na última rodada, depois de uma combinação improvável de resultados. O eterno rival desceu junto. De lá para cá, a bússola do Vitória mudou de direção. Foi vice da Série C em 2006, voltando para a divisão intermediária _ o rival Bahia ficou para trás _, e, com pelo menos o quarto lugar assegurado na Série B de 2007, volta à elite do futebol brasileiro. “O segredo da escalada foi a união de todos os envolvidos, da direção aos funcionários”, acredita o presidente do Vitória, Jorge Sampaio, no posto há dois anos.
“Estamos com o salário de todos os funcionários em dia e trabalhando para manter a harmonia no clube”. Sampaio também destaca a eficiência das categorias de base do clube como alavanca para o sucesso. “Temos 320 garotos treinando no Vitória, dos quais 96 moram no Barradão, em regime de internato. É um trabalho muito bonito”, gaba-se. O presidente afirma que o objetivo do Vitória na Série A será conquistar uma das vagas para a Libertadores da América de 2009. Para isso, conta com a colaboração do atual técnico do time, Osvaldo Alvarez, o Vadão, para quem o clube já fez uma proposta oficial de renovação de contrato. “Ele caiu como uma luva para o grupo”, derrete-se Sampaio. À frente do Vitória, Vadão comandou a equipe nas 12 últimas rodadas. Foram seis vitórias, três empates e três derrotas. (AE)
***
Sentimento rubro-negro
Outros torcedores talvez sejam capazes de loucura maior, porém Alvinho Barriga Mole conquistou indecifrável admiração no seio rubro-negro. Torce há 74 anos pelo Vitória, segundo conta. Quando o time materializa sonhos seu e de milhares, ajoelha-se. Atravessa o gramado em deleitável penitência, imagem de Padre Cícero elevada. Representa uma multidão, embora único.
“Se eu morrer, já estou satisfeito”, brinca. Gargalhadas pelo retorno à Série A. No peito rubro-negro, faz oito meses carrega também duas pontes de safena e uma mamária. Mantém relação inseparável desde quando o clube concentrou no bairro de Brotas e era seu vizinho. Foi conselheiro. Hoje, agradece o estacionamento no pátio interno do Barradão, retribuição de Alexi Portela Júnior, que conheceu menino, década de 1970, quando o presidente do Vitória era Alex Portela, o pai.
Marciades Marinho Pereira, conhecido como “Louro”, também chama atenção. Não no estádio. Aguça a curiosidade nas ruas com seu incrementado Fusca, segundo diz, ano 95. Original na cor vermelha, pois parece camaleão, decorado com escudos do Vitória, uns 15 leões de pelúcia e bandeiras.
Diferente de Alvinho, torcedor cordial, Louro provoca. Deixa o Bahia nas rodas, para as necessidades caninas, argumenta, e no acelerador, freio e empreagem. Ali, existe costante contato com os pés. (MS)
***
Apodi se despediu contra o CRB
José Carlos Mesquita
O lateral-direito Apodi encerrou o seu ciclo no Vitória. Negociados há dois meses 50% do seu atestado federativo para o Cruzeiro, um dos ídolos rubro-negros _ ele fez três gols no Brasileiro _ não jogará as duas partidas complementares do Brasileiro da Série B, depois de amanhã, no Barradão, contra o Remo, e no sábado seguinte diante do Gama, em Brasília. Mais um ou dois jogadores serão preservados para o jogo de despedida em casa, mas o técnico Vadão ainda vai decidir nos treinos de hoje e amanhã.
No caso específico de Apodi, entende Vadão que, além de não fazer parte dos planos para o próximo ano, independentemente que ele renove ou não contrato, o jogador foi muito exigido ao longo da temporada e nada melhor poupá-lo e, no seu lugar, dar oportunidade ao reserva Alex Santos. O atacante Joãozinho, com 18 gols, também pode não ser escalado. A novidade, no entanto, em uma dessas partidas será o goleiro reserva França, o único do elenco de 40 jogadores utilizados na temporada que não teve chance depois que Ney assumiu a condição de titular.
Depois da bonita festa no campo e mais ainda nas arquibancadas pela vitória sobre o CRB, de Alagoas, por 4x1, e a conseqüente classificação do Leão de volta à elite do futebol nacional em 2008, os jogadores e a comissão técnica tiveram a quarta-feira de folga e o motivo foi, justamente, comemorativo. Para os pacientes médicos, no entanto, a manhã foi normal. Os zagueiros Marcelo Batatais e Jeferson, o meia Luiz Fernando e o atacante Paulo César fizeram tratamento.
A reapresentação dos jogadores que seria a partir das 15h, foi antecipada para esta manhã devido ao feriado da Proclamação da República do Brasil. Depois da conversa com o médico que estiver de plantão, o técnico Vadão terá uma idéia do time para o jogo com Remo, de Belém. A intenção do treinador é escalar a maioria dos jogadores que estão atuando. “ Vai ser uma partida festiva, a torcida deve superlotar o Barradão para a despedida do Vitória e merece todo o respeito”, disse o treinador. O treino será leve por ser final de temporada e amanhã, em horário a ser definido, acontecerá um minicoletivo e, à noite, o início da concentração para a partida de depois de amanhã, programada para as 15h (horário da Bahia).
O treinador Vadão não vai comandar da área técnica o time do Vitória as duas partidas finais da Série B, contra o Remo e o Gama. Ontem, Vadão foi punido por 30 dias pela Comissão Disciplinar do STJD, que também penalizou o meia Luiz Fernando, com dois jogos. Os dois foram expulsos no jogo Coritiba 2x2 Vitória, no Estádio Couto Pereira, em Curitiba, realizado no dia 3 deste mês pela 34ª rodada.
Vadão reclamou o tempo todo do erro do árbitro potiguar Edson Espiridião, que não expulsou com sete minutos do primeiro tempo o zagueiro Anderson Lima. Nos instantes finais da partida, a assistente paulista Maria Eliza Barbosa dedurou vadão ao árbitro que o expulsou. Na partida de sábado, as ordens de Vadão serão passadas para o assistente Gersinho ou para o segundo auxiliar-técnico, o ex-zagueiro Flávio Tanajura.
***
FBF aliviada com sucesso de filiado
Marcelo Sant’Ana
Ednaldo Rodrigues gastou quase uma hora em conversa com torcedores para deixar o Barradão, embora já fosse 1h30 da madrugada e, às 7h, tivesse que viajar a Bragança para acompanhar o Bahia. Presidente da FBF, sentia-se recompensado pelo sucesso do Vitória, antigo filiado.
“É uma satisfação porque a crise do Vitória, como do Bahia, sempre despertou curiosidade no país e era difícil de explicar e se fazer entender”, justifica. O desejo dos dirigentes dos outros estados era o potencial do torcedor baiano, desperdiçado em divisões menores.
Para a FBF, o acesso do rubro-negro indica perspectiva de melhora. O rebaixamento da dupla Ba-Vi diminuiu em 40% as receitas. “Cortamos eventos, treinamento de profissional e até reformas na estrutura do Palácio dos Esportes que estavam planejadas”, recorda. “A Série B já trouxe melhora porque há um calendário fixo. No Brasileirão, os patrocínios são ainda mais fortes”.
O presidente da FBF fez questão de enaltecer o apoio da CBF após a queda. “Estreitamos os laços e a entidade maior nos prestigiou. O regulamento da Série C mudou atendento 90% da nossa proposta”, garante. “Este ano, cobramos arbitragem qualificada e, na hora decisiva, fomos atendidos. Nosso representante entrava em campo preocupado com adversário e com árbitro. Não podia”, defende.
Outro benefício do acesso remete às assembléias na CBF. Têm direito a voto os presidentes das 27 federações e de clubes da Série A. “Ganhamos peso para articular em prol do futebol baiano. Fora que a pontuação no ranking da CBF é maior. Bom para os demais clubes, pois cada ponto é importante para a FBF pleitear vagas na Copa do Brasil e Série C”.
Aliás, Ednaldo também teve sua parcela de contribuição para o acesso do Vitória. Várias vezes esteve na CBf e no STJD defendendo os interesses do clube e por último, se reuniu com Ricardo Teixeira e Jorginho Sampaio quando cobrou árbitro de primeira linha nos jogos do time rubro-negro. Resultado: quem apitou a partida Vitória 4x1 CRB foi o gaúcho Carlos Eugênio Simon, da Fifa, que apitou na Copa da Alemanha.

Correio da Bahia - Esportes. 15/11/2007