quinta-feira, 15 de novembro de 2007





Torcedor do Vitória vestiu a camisa com orgulho

Salvador amanheceu rubro-negra ontem e a conquista da vaga para a Série A foi o principal assunto nos quatro cantos da cidade


Salvador amanheceu rubro-negra ontem. De vendedores ambulantes a executivos, passando por atendentes de lojas, cobradores de ônibus, taxistas, padeiros, entregadores de gás, a “metade” torcedora do Vitória na capital baiana foi às ruas vestida com a camisa do time, orgulhosa pelo retorno à elite do futebol brasileiro, conseguido no convincente 4x1 contra o CRB (AL), em casa _ um Barradão lotado com 30 mil pessoas _, na noite de terça-feira. “Esta camisa eu comprei em 2004 (ano em que o Vitória foi rebaixado para a Série B do Campeonato Brasileiro) e prometi que só ia usá-la de novo quando a gente voltasse para a primeira divisão”, disse o taxista Jairo Costa Matos, 26 anos, mostrando as pequenas manchas que a umidade e o tempo sem uso causaram no tecido. Pelas ruas e avenidas da capital baiana, grupos de amigos, antigos e recém-formados, abraçavam-se e pulavam, desde a madrugada de terça, cantando o refrão-tema do acesso, “Primeira, eu sou da primeira”, ao ritmo de Sorte grande (Poeira), sucesso da cantora Ivete Sangalo _ torcedora fanática do Vitória.
Nos carros, bandeirolas do time. Nas sacadas e janelas de casas e edifícios, panos vermelhos e pretos, sinalizando a presença do torcedor feliz. O acesso à Série A do Brasileirão é um novo capítulo, para o Vitória, de um ciclo de quedas e subidas sucessivas. Apenas três anos atrás, em 2004, o time estava na mesma Série A para a qual acaba de voltar. Terminou aquele campeonato em penúltimo lugar, o que causou a queda à Série B – onde encontrou o arquirrival Bahia (para quem torce a outra “metade” dos soteropolitanos). Em 2005, novo vexame, desta vez carregado de surpresa: o Vitória, em nenhum momento apontado como um dos ameaçados de rebaixamento, acabou caindo para a Série C na última rodada, depois de uma combinação improvável de resultados. O eterno rival desceu junto. De lá para cá, a bússola do Vitória mudou de direção. Foi vice da Série C em 2006, voltando para a divisão intermediária _ o rival Bahia ficou para trás _, e, com pelo menos o quarto lugar assegurado na Série B de 2007, volta à elite do futebol brasileiro. “O segredo da escalada foi a união de todos os envolvidos, da direção aos funcionários”, acredita o presidente do Vitória, Jorge Sampaio, no posto há dois anos.
“Estamos com o salário de todos os funcionários em dia e trabalhando para manter a harmonia no clube”. Sampaio também destaca a eficiência das categorias de base do clube como alavanca para o sucesso. “Temos 320 garotos treinando no Vitória, dos quais 96 moram no Barradão, em regime de internato. É um trabalho muito bonito”, gaba-se. O presidente afirma que o objetivo do Vitória na Série A será conquistar uma das vagas para a Libertadores da América de 2009. Para isso, conta com a colaboração do atual técnico do time, Osvaldo Alvarez, o Vadão, para quem o clube já fez uma proposta oficial de renovação de contrato. “Ele caiu como uma luva para o grupo”, derrete-se Sampaio. À frente do Vitória, Vadão comandou a equipe nas 12 últimas rodadas. Foram seis vitórias, três empates e três derrotas. (AE)
***
Sentimento rubro-negro
Outros torcedores talvez sejam capazes de loucura maior, porém Alvinho Barriga Mole conquistou indecifrável admiração no seio rubro-negro. Torce há 74 anos pelo Vitória, segundo conta. Quando o time materializa sonhos seu e de milhares, ajoelha-se. Atravessa o gramado em deleitável penitência, imagem de Padre Cícero elevada. Representa uma multidão, embora único.
“Se eu morrer, já estou satisfeito”, brinca. Gargalhadas pelo retorno à Série A. No peito rubro-negro, faz oito meses carrega também duas pontes de safena e uma mamária. Mantém relação inseparável desde quando o clube concentrou no bairro de Brotas e era seu vizinho. Foi conselheiro. Hoje, agradece o estacionamento no pátio interno do Barradão, retribuição de Alexi Portela Júnior, que conheceu menino, década de 1970, quando o presidente do Vitória era Alex Portela, o pai.
Marciades Marinho Pereira, conhecido como “Louro”, também chama atenção. Não no estádio. Aguça a curiosidade nas ruas com seu incrementado Fusca, segundo diz, ano 95. Original na cor vermelha, pois parece camaleão, decorado com escudos do Vitória, uns 15 leões de pelúcia e bandeiras.
Diferente de Alvinho, torcedor cordial, Louro provoca. Deixa o Bahia nas rodas, para as necessidades caninas, argumenta, e no acelerador, freio e empreagem. Ali, existe costante contato com os pés. (MS)
***
Apodi se despediu contra o CRB
José Carlos Mesquita
O lateral-direito Apodi encerrou o seu ciclo no Vitória. Negociados há dois meses 50% do seu atestado federativo para o Cruzeiro, um dos ídolos rubro-negros _ ele fez três gols no Brasileiro _ não jogará as duas partidas complementares do Brasileiro da Série B, depois de amanhã, no Barradão, contra o Remo, e no sábado seguinte diante do Gama, em Brasília. Mais um ou dois jogadores serão preservados para o jogo de despedida em casa, mas o técnico Vadão ainda vai decidir nos treinos de hoje e amanhã.
No caso específico de Apodi, entende Vadão que, além de não fazer parte dos planos para o próximo ano, independentemente que ele renove ou não contrato, o jogador foi muito exigido ao longo da temporada e nada melhor poupá-lo e, no seu lugar, dar oportunidade ao reserva Alex Santos. O atacante Joãozinho, com 18 gols, também pode não ser escalado. A novidade, no entanto, em uma dessas partidas será o goleiro reserva França, o único do elenco de 40 jogadores utilizados na temporada que não teve chance depois que Ney assumiu a condição de titular.
Depois da bonita festa no campo e mais ainda nas arquibancadas pela vitória sobre o CRB, de Alagoas, por 4x1, e a conseqüente classificação do Leão de volta à elite do futebol nacional em 2008, os jogadores e a comissão técnica tiveram a quarta-feira de folga e o motivo foi, justamente, comemorativo. Para os pacientes médicos, no entanto, a manhã foi normal. Os zagueiros Marcelo Batatais e Jeferson, o meia Luiz Fernando e o atacante Paulo César fizeram tratamento.
A reapresentação dos jogadores que seria a partir das 15h, foi antecipada para esta manhã devido ao feriado da Proclamação da República do Brasil. Depois da conversa com o médico que estiver de plantão, o técnico Vadão terá uma idéia do time para o jogo com Remo, de Belém. A intenção do treinador é escalar a maioria dos jogadores que estão atuando. “ Vai ser uma partida festiva, a torcida deve superlotar o Barradão para a despedida do Vitória e merece todo o respeito”, disse o treinador. O treino será leve por ser final de temporada e amanhã, em horário a ser definido, acontecerá um minicoletivo e, à noite, o início da concentração para a partida de depois de amanhã, programada para as 15h (horário da Bahia).
O treinador Vadão não vai comandar da área técnica o time do Vitória as duas partidas finais da Série B, contra o Remo e o Gama. Ontem, Vadão foi punido por 30 dias pela Comissão Disciplinar do STJD, que também penalizou o meia Luiz Fernando, com dois jogos. Os dois foram expulsos no jogo Coritiba 2x2 Vitória, no Estádio Couto Pereira, em Curitiba, realizado no dia 3 deste mês pela 34ª rodada.
Vadão reclamou o tempo todo do erro do árbitro potiguar Edson Espiridião, que não expulsou com sete minutos do primeiro tempo o zagueiro Anderson Lima. Nos instantes finais da partida, a assistente paulista Maria Eliza Barbosa dedurou vadão ao árbitro que o expulsou. Na partida de sábado, as ordens de Vadão serão passadas para o assistente Gersinho ou para o segundo auxiliar-técnico, o ex-zagueiro Flávio Tanajura.
***
FBF aliviada com sucesso de filiado
Marcelo Sant’Ana
Ednaldo Rodrigues gastou quase uma hora em conversa com torcedores para deixar o Barradão, embora já fosse 1h30 da madrugada e, às 7h, tivesse que viajar a Bragança para acompanhar o Bahia. Presidente da FBF, sentia-se recompensado pelo sucesso do Vitória, antigo filiado.
“É uma satisfação porque a crise do Vitória, como do Bahia, sempre despertou curiosidade no país e era difícil de explicar e se fazer entender”, justifica. O desejo dos dirigentes dos outros estados era o potencial do torcedor baiano, desperdiçado em divisões menores.
Para a FBF, o acesso do rubro-negro indica perspectiva de melhora. O rebaixamento da dupla Ba-Vi diminuiu em 40% as receitas. “Cortamos eventos, treinamento de profissional e até reformas na estrutura do Palácio dos Esportes que estavam planejadas”, recorda. “A Série B já trouxe melhora porque há um calendário fixo. No Brasileirão, os patrocínios são ainda mais fortes”.
O presidente da FBF fez questão de enaltecer o apoio da CBF após a queda. “Estreitamos os laços e a entidade maior nos prestigiou. O regulamento da Série C mudou atendento 90% da nossa proposta”, garante. “Este ano, cobramos arbitragem qualificada e, na hora decisiva, fomos atendidos. Nosso representante entrava em campo preocupado com adversário e com árbitro. Não podia”, defende.
Outro benefício do acesso remete às assembléias na CBF. Têm direito a voto os presidentes das 27 federações e de clubes da Série A. “Ganhamos peso para articular em prol do futebol baiano. Fora que a pontuação no ranking da CBF é maior. Bom para os demais clubes, pois cada ponto é importante para a FBF pleitear vagas na Copa do Brasil e Série C”.
Aliás, Ednaldo também teve sua parcela de contribuição para o acesso do Vitória. Várias vezes esteve na CBf e no STJD defendendo os interesses do clube e por último, se reuniu com Ricardo Teixeira e Jorginho Sampaio quando cobrou árbitro de primeira linha nos jogos do time rubro-negro. Resultado: quem apitou a partida Vitória 4x1 CRB foi o gaúcho Carlos Eugênio Simon, da Fifa, que apitou na Copa da Alemanha.

Correio da Bahia - Esportes. 15/11/2007

quarta-feira, 3 de outubro de 2007


Sonho, a gente só se dá conta dele depois que acorda, depois que ele acabou... E fica aquela vontade na gente de sonhar mais um pouquinho. Existem pessoas que são um sonho... Um sonho pelo qual a gente dormiria a vida inteira. Mas o destino vem e nos acorda violentamente... E nos leva aquele sonho tão bom... Existem pessoas que são estrelas. Doces luzes que enfeitam e iluminam as noites escuras de nossas vidas. Mas vem o amanhecer e nos rouba com toda a sua claridade aquela estrela tão linda. Existem pessoas que são flores...Belezas discretas que alegram o nosso caminho. Mas com o tempo, as flores murcham, e nos enchem de saudade de sua cor e de seu perfume. Existem, finalmente,as pessoas que são simplesmente amor. Um amor doce como o mel de uma flor...que desabrochou numa estrela e que veio até nós num lindo sonho! E ainda bem que são amor, porque flores,estrelas ou sonhos, mais cedo ou mais tarde, terminam... mas o amor...o amor não termina nunca...

segunda-feira, 1 de outubro de 2007


As mulheres de 30

(Mário Prata)


O que mais as espanta é que, de repente, elas percebem que já são balzaquianas. Mas poucas balzacas leram A Mulher de Trinta, de Honoré de Balzac, escrito há mais de 150 anos. Olhe o que ele diz:
'Uma mulher de trinta anos tem atrativos irresistíveis. A mulher jovem tem muitas ilusões, muita inexperiência. Uma nos instrui, a outra quer tudo aprender e acredita ter dito tudo despindo o vestido. (...) Entre elas duas há a distância incomensurável que vai do previsto ao imprevisto, da força à fraqueza. A mulher de trinta anos satisfaz tudo, e a jovem, sob pena de não sê-lo, nada pode satisfazer'.

Madame Bovary, outra francesa trintona, era tão maravilhosa que seu criador chegou a dizer diante dos tribunais: 'Madame Bovary c'est moi'. E a Marilyn Monroe, que fez tudo aquilo entre 30 e 40?

Mas voltemos a nossa mulher de 30, a brasileira-tropicana, aquela que podemos encontrar na frente das escolas pegando os filhos ou num balcão de bar bebendo um chope sozinha. Sim, a mulher de 30 bebe. A mulher de 30 é morena. Quando resolve fazer a besteira de tingir os cabelos de amarelo-hebe passa, automaticamente, a ter 40. E o que mais encanta nas de 30 é que parece que nunca vão perder aquele jeitinho que trouxeram dos 20. Mas, para isso, como elas se preocupam com a barriguinha!

A mulher de 30 está para se separar. Ou já se separou. São raras as mulheres que passam por esta faixa sem terminar um casamento. Em compensação, ainda antes dos 40 elas arrumam o segundo e definitivo.
A grande maioria tem dois filhos. Geralmente um casal. As que ainda não tiveram filhos se tornam um perigo, quando estão ali pelos 35. Periga pegarem o primeiro quarentão que encontrarem pela frente. Elas querem casar.

Elas talvez não saibam, mas são as mais bonitas das mulheres. Acho até que a idade mínima para concurso de miss deveria ser 30 anos. Desfilam como gazelas, embora eu nunca tenha visto uma (gazela). Sorriem e nos olham com uns olhos claros. Já notou que elas têm olhos claros? E as que usam uns cabelos longos e ondulados e ficam a todo momento jogando as melenas para trás? É de matar.

O problema com esta faixa de idade é achar uma que não esteja terminando alguma tese ou TCC. E eu pergunto: existe algo mais excitante do que uma médica de 32 anos, toda de branco, com o estetoscópio balançando no decote de seu jaleco diante daqueles hirtos seios? E mulher de 30 guiando jipe? Covardia.

A mulher de 30 ainda não fez plástica. Não precisa. Está com tudo em cima. Ela, ao contrário das de 20, nunca ficou. Quando resolve, vai pra valer. Faz sexo como se fosse a última vez. A mulher de 30 morde, grita, sua como ninguém. Não finge. Mata o homem, tenha ele 20 ou 50. E o hálito, então? É fresco. E os pelinhos nas costas, lá pra baixo, que mais parecem pele de pêssego, como diria o Machado se referindo a Helena, que, infelizmente, nunca chegou aos 30?

Mas o que mais me encanta nas mulheres de 30 é a independência. Moram sozinhas e suas casas têm ainda um frescor das de 20 e a maturidade das de 40. Adoram flores e um cachorrinho pequeno. Curtem janelas abertas. Elas sabem escolher um travesseiro. E amam quem querem, à hora que querem e onde querem. E o mais importante: do jeito que desejam.

São fortes as mulheres de 30. E não têm pressa pra nada. Sabem aonde vão chegar. E sempre chegam.

Chegam lá atrás, no Balzac: 'A mulher de 30 anos satisfaz tudo'.

Ponto. Pra elas.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007


Myspace Photo Cube
A MOÇA TECELÃ

Marina Colasanti

Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava à moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio do ponto dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.
Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.
— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.
— Para que ter casa se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.
Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.
Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura acordou e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

"Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundos, mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força consegue destruir."C. Drummond de Andrade

sexta-feira, 24 de agosto de 2007



Amigo, Um Ensaio

Difícil querer definir amigo. Amigo é quem te dá um pedacinho do chão, quando é de terra firme que você precisa, ou um pedacinho do céu, se é o sonho que te faz falta.Amigo é mais que ombro, é mão estendida, mente aberta, coração pulsante, costas largas. É quem tentou e fez, e não tem o egoísmo de não querer compartilhar o que aprendeu. É aquele que cede e não espera retorno, porque sabe que o ato de compartilhar um instante qualquer contigo já o realimenta, satisfaz. É quem já sentiu ou um dia vai sentir o mesmo que você. É a compreensão para o seu cansaço e a insatisfação para a sua reticência.É aquele que entende seu desejo de voar, de sumir devagar, a angústia pela compreensão dos acontecimentos, a sede pelo "por vir". É ao mesmo tempo espelho que te reflete, e óleo derramado sobre suas águas agitadas. É quem fica enfurecido por enxergar seu erro, querer tanto o seu bem e saber que a perfeição é utopia. É o sol que seca suas lágrimas, é a polpa que adocica ainda mais seu sorriso.Amigo é aquele que toca na sua ferida numa mesa de chopp, acompanha suas vitórias, faz piada amenizando problemas. É quem tem medo, dor, náusea, cólica, gozo, igualzinho a você. É quem sabe que viver é ter história pra contar. É quem sorri pra você sem motivo aparente, é quem sofre com seu sofrimento, é o padrinho filosófico dos seus filhos. É o achar daquilo que você nem sabia que buscava.Amigo é aquele que te lê em cartas esperadas ou não, pequenos bilhetes em sala de aula, mensagens eletrônicas emocionadas. É aquele que te ouve ao telefone mesmo quando a ligação é caótica, com o mesmo prazer e atenção que teria se tivesse olhando em seus olhos. Amigo é multimídia.Olhos... amigo é quem fala e ouve com o olhar, o seu e o dele em sintonia telepática. É aquele que percebe em seus olhos seus desejos, seus disfarces, alegria, medo. É aquele que aguarda pacientemente e se entusiasma quando vê surgir aquele tão esperado brilho no seu olhar, e é quem tem uma palavra sob medida quando estes mesmos olhos estão amplificando tristeza interior. É lua nova, é a estrela mais brilhante, é luz que se renova a cada instante, com múltiplas e inesperadas cores que cabem todas na sua íris.Amigo é aquele que te diz "eu te amo" sem qualquer medo de má interpretação: amigo é quem te ama "e ponto". É verdade e razão, sonho e sentimento. Amigo é pra sempre, mesmo que o sempre não exista. (Marcelo Batalha)

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Para comemorar o DIA DOS SOLTEIROS
----------------------------------------------

AS VANTAGENS DE SER SOLTEIRA
Por Letícia Vidica

Ser uma pessoa solteira não é de todo mal, tem lá suas vantagens – e não são poucas. Ao invés de ficar chorando por aí, rezando todo dia para Santo Antônio, agüentando piadinhas daquela tia gorda que te cobra casamento toda vez que te vê. Ao invés de ficar depressiva toda vez que encontra um casal apaixonado, andando pela rua; de comer 10 caixas de bombons e de BIS no dia dos namorados, de se revoltar com todos os homens da face da terra ou de se sentir um ser desprezível, por que você não tenta pensar pelo lado positivo? Isso! Ser solteira pode ser algo positivo, acredite!
Não está acreditando?! Vou provar pra você, cara amiga, que consegue sobreviver sem um homem ao seu lado e, aposto que se gostar das vantagens, talvez não queira um primata masculino jamais ao seu lado (exagerei?!)
Ser solteira é bom porque...
Você não vai mais precisar depilar as pernas no inverno. Que maravilha! Você pode virar um gorila se quiser e não vai mais Ter que sair correndo a uma farmácia, quinze minutos antes dele chegar, só para comprar uma gilete às pressas porque esqueceu de raspar os pêlos da perna, virilha, sovaco, buço e onde mais essas pestes quiserem nascer. Nem vai mais Ter que se depilar com uma coisa gosmenta – fria ou quente – que você tem que fingir que não dói e nem acreditar que não se trata de uma terapia de tortura chinesa.
Futebol ? O que é isso? SporTV ? Eu pago por esse canal ? Ah, o canal dos rapazes de short e perna gostosa. Sei sim... Que coisa boa, poder sentar frente a sua TV e assistir a um filme, uma novela das oito, a um programa de culinária, simplesmente ao que VOCÊ quiser, sem Ter que conviver 24 horas por dia e 7 dias na semana com o Galvão Bueno, o Robinho e o Parreira dentro da sua casa. E, o melhor de tudo, o controle remoto será SEU e você poderá finalmente ver o começo, meio e fim daquele filme que sempre começava na hora do jogo do Corinthians.
Amigas! Você vai poder voltar a conhecer o significado da palavra amiga e voltar a desfrutar da oportunidade de jantar, ir ao shopping, a um cinema, a uma balada, fazer tudo e fazer nada com as amigas. Nada melhor do que poder sumir, por uma tarde inteira, só para ficar fofocando na casa da sua melhor amiga e ninguém ficar te ligando de 5 em 5 minutos para saber onde você está e ficar deixando mensagens ‘carinhosas’ na sua caixa postal. Ah, e se o telefone tocar, você pode levar um papo legal de 1 hora e 47 minutos com sua melhor amiga, sem ninguém ficar fazendo cara feia ao seu lado, olhando o relógio de segundo ou segundo ou tendo uma crise de tosse aguda. Além do mais, vocês poderão beber Coca-cola e ninguém, absolutamente ninguém, vai arrotar e nenhuma delas irá palitar os dentes (que coisinha mais nojenta!)
Você não tem sogra (Salve-se as boas sogras!) Que bom será não Ter mais que disputar com a mãe do seu namorado (que é um amor). Nenhuma crise existencial, gripe ou depressão vai atrapalhar a viagem de vocês. Você não terá mais que ficar fingindo que curte ficar ouvindo as lamentações da mãe do seu namorado nem Ter que engolir a seco todas as provocações. Você vai ao cinema ver filmes com o Brad Pitt, Tom Cruise, Will Smith ou George Cloney e poderá babar à vontade por eles e rever o filme quantas vezes achar necessário para relembrar aquele detalhe que passou batido. Nada de Rambo ou A Rocha. Filmes de luta, terror,policiais ou fúteis com mulheres gostosas nunca mais entrarão no seu DVD e ocuparão o seu tempo.
Que bênção não precisar mais ver a bunda cheia de celulite da Carla Perez na TV ou encontrar uma playboy ‘escondida’ em cima do vaso do banheiro do quarto dele (que ele jura que é do irmãozinho mais novo de 7 anos!). Além de não Ter mais de agüentar piadinhas bestas sobre mulheres que devem pilotar fogão, sobre como não vivemos sem eles e nem ficar achando graça, enquanto ele cisma em te tirar na frente dos amigos dele, só para provar...provar o quê,palhaço?
Casa limpa e organizada pode ser realidade! Seu banheiro permanecerá limpo, com a tábua do vaso no lugar e sem respingos de urina por toda a bacia ou chão do banheiro (ainda monto uma tese de mestrado sobre isso). Suas toalhas de banho permanecerão no lugar e secas. Nada de toalhas pretas, molhadas, amassadas e jogadas no chão. Você não vai Ter que brincar de João e Maria, catando as migalhas de roupas que ele foi deixando jogada, desde que entrou em casa. O seu sofá branco não será mais tatuado pelos pés pretos dele, depois de uma partida de futebol no campinho barrento da rua de trás.
Você pode engordar comendo chocolate e ninguém vai ficar te enchendo o saco ou jogando indiretas do quanto está fora de forma. E, se você não entrar naquela calça jeans que ele adora, você não ficará depressiva e mal humorada porque não haverá mais calça jeans que ele gosta.
O seu gosto vai prevalecer! Vai pintar a unha de verde, marrom e azul sem ninguém dizer que é esquisito, vai cortar o cabelo igual ao daquela menina da revista e ninguém vai reclamar ou fingir que nem notou, vai se vestir conforme o seu estado de espírito sem ter que ficar bem naquele vestido preto só para agradá-lo. Vai passar o dia todo no salão de beleza sem Ter pressa nem se sentir culpada por atrasar o jantar de vocês...
Tem coisa melhor do que não precisar mais dar satisfação a ninguém? Ligar para dizer que vai à padaria? Jamais! Ficar respondendo onde está, com quem foi, com que roupa, quem estava lá,o que bebeu, o que comeu,o que falou?!Jamais! Saber que vai arrumar uma tremenda briga só porque chegou em casa às 20h21min, ao invés das 20h20 como prometeu?Jamais! Ter que explicar toda vez para ele que o seu celular também fica fora de área, acaba bateria, tem caixa postal, é digno de esquecimento em cima da cama, que São Paulo tem trânsito e que as pessoas tem o direito de se atrasar? Jamais!Você pode conhecer muita gente – loiros, morenos, ruivos, carecas, cabeludos, gordos, magros, legais, chatos, bonitos, feios, agradáveis, chatos...- será um menu variado e você não precisa Ter pressa de escolher, aliás, tempo é o que você mais terá!
Não mais vai precisar chegar a um lugar e Ter medo de olhar pro lado ou de encarar o garçom e ele achar que você está dando mole pro coitado! Seu melhor amigo pode te ligar e ninguém vai ficar perguntado quem é ou tratando mal. A agenda do seu celular não mais será bisbilhotada e você não vai Ter que se sentir como num interrogatório da época da ditadura, respondendo e dando a ficha criminal de cada nome que consta na agenda do seu Motorola.
Bem, amiga! Ainda vai ficar chorando porque está solteira? Que isso! Ser solteira é bom demais quando se quer sentir solteira. Não adianta estar solteira e se sentir uma casada de 30 anos. As pessoas agem conforme você reflete para elas. Se você estiver bem e feliz consigo mesma, todos vão ser irradiados por esta luz e vão se aproximar. Por isso, pare de lamentar o que passou, termine de ler este texto agora, desconecte, tome um bom banho, se arrume, coloque sua melhor roupa – não importa se vai sair – olhe no espelho e diga ‘Como eu sou bonita e como é bom ser solteira!’.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

METADE

Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe seja linda, ainda que triste.
Que a mulher que eu amo seja sempre amada, mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece, nem repetidas com fervor, apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento.
Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo.
Que a minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço, que essa tensão que me corroi por dentro seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que penso e a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que já fui, a outra metade eu não sei...
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba, e que ninguém a tente complicar, porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é a platéia e a outra metade, a canção.
E que minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor e a outra metade...também

Oswaldo Montenegro

EPIGRAMA N°2

És precária e veloz, Felicidade.
Custas a vir e, quando vens, não te demoras.
Foste tu que ensinaste aos homens que havia tempo,
e, para te medir, se inventaram as horas.
Felicidade, és coisa estranha e dolorosa:
Fizeste para sempre a vida ficar triste.
Porque um dia se vê que as horas todas passam,
e um tempo despovoado e profundo, persiste.

Cecília Meireles

FILTRO SOLAR


Nunca deixem de usar filtro solar.
Se eu pudesse dar só uma dica sobre o futuro seria esta: use filtro solar. Os benefícios a longo prazo do uso de filtro solar estão provados e comprovados pela ciência. Já o resto de meus conselhos não tem outra base confiável além de minha própria experiência errante. Mas agora eu vou compartilhar esses conselhos com vocês...
Aproveite bem, o máximo que puder, o poder e a beleza da juventude. Ou então, esquece. Você nunca vai entender mesmo o poder e a beleza da juventude até que tenham se apagado. Mas pode crer, daqui a vinte anos, você vai evocar as suas fotos e perceber de um jeito que você nem desconfia hoje em dia quantas, tantas alternativas se escancaravam à sua frente. E como você realmente estava com "tudo em cima". Você não está gordo, ou gorda.
Não se preocupe com o futuro. Ou então preocupe-se, se quiser, mas saiba que "pré-ocupação" é tão eficaz quanto mascar chiclete para tentar resolver uma equação de álgebra. As encrencas de verdade em sua vida tendem a vir de coisas que nunca passaram pela sua cabeça preocupada, que te pegam no ponto fraco às quatro da tarde de uma terça-feira modorrenta.
Todo dia enfrente pelo menos uma coisa que te meta medo de verdade.
Cante.
Não seja leviano com o coração dos outros, não ature gente de coração leviano.
Use fio dental.
Não perca tempo com inveja. Às vezes, se está por cima; às vezes, por baixo... A peleja é longa e, no fim, é só você contra você mesmo.
Não esqueça os elegios que receber, esqueça as ofensas. Se conseguir isso, me ensine.
Guarde as antigas cartas de amor. Jogue fora os extratos bancários velhos.
Estique-se.
Não se sinta culpado por não saber o que fazer da vida. As pessoas mais interessantes que conheço não sabiam aos 22 o que queriam fazer da vida. Alguns dos quarentões mais interessantes que conheço ainda não sabem.
Tome bastante cálcio. Seja cuidadoso com os joelhos: você vai sentir falta deles.
Talvez você case, talvez não. Talvez tenha filhos, talvez não. Talvez se divorcie aos 40, talvez dance ciranda em suas bodas de diamante. Faça o que fizer, não se auto-congratule demais e nem seja severo demais com você. As suas escolhas têm sempre metade das chances de dar certo. É assim para todo mundo.
Desfrute de seu corpo, use-o de toda maneira que puder mesmo. Não tenha medo de seu corpo ou do que as outras pessoas possam achar dele. É o mais incrível instrumento que você jamais vai possuir.
Dance... Mesmo que não tenha onde, além de seu próprio quarto.
Leia as instruções, mesmo que não vá segui-las depois. Não leia revistas de beleza. Elas só vão fazer você se achar feio.
Dedique-se a conhecer os seus pais. É impossível prever quando eles terão ido embora, de vez. Seja legal com os seus irmãos. Eles são a melhor ponte com o seu passado e, possivelmente, quem vai sempre mesmo te apoiar no futuro.
Entenda que amigos vão e vêm. Mas nunca abra mão de uns poucos e bons. Esforce-se de verdade para diminuir as distâncias geográficas e destinos de vida, porque quanto mais velho você ficar, mais você vai precisar das pessoas que conheceu quando jovem.
More uma vez em Nova Iorque, mas vá embora antes de endurecer. More uma vez no Havaí, mas se mande antes de amolecer. Viaje.
Aceite certas verdades inescapáveis: os preços vão subir, os políticos vão saracotear, você também vai envelhecer. E quando isso acontecer, você vai fantasiar que quando era jovem os preços eram razoáveis, os políticos eram decentes e as crianças respeitavam os mais velhos.
Respeite os mais velhos.
Não espere que ninguém segure a sua barra. Talvez você arrume uma boa aposentadoria privada, talvez case com um bom partido, mas não esqueça que um dos dois pode, de repente, acabar. Não mexa demais nos cabelos, senão quando você chegar aos 40, vai aparentar 85.
Cuidado com os conselhos que comprar, mas seja paciente com aqueles que os oferecem. Conselho é uma forma de nostalgia. Compartilhar conselhos é um jeito de pescar o passado do lixo, esfregá-lo, repintar as partes feias e reciclar tudo por mais do que vale.
Mas no filtro solar, acredite!
Referências:
Advice, like youth, probably just wasted on the young, por Mary Schmich, Chicago Tribune, 1º de junho de 1997 (em inglês).
O Filtro Solar, Rede Globo, Fantástico, edição de 19 de janeiro de 2004.
Everybody's Free (to wear sunscreen), Baz Luhrmann (em inglês).
Filtro Solar, por Pedro Bial, Terra Letras.

segunda-feira, 18 de junho de 2007


PRESENÇA RARA - NETINHO

Vida de sol e praia
Linda presença rara
Navega do norte ao infinito da terra
Tudo fazer agora, fazer amor sem hora
Carrega contigo a beleza da fera


Em cima da prancha o mundo parece menor
Do porto da Barra ao feixe de luz do farol

Livre, no tempo e no espaço
Forte, segura no passo
Mostra teu porte narciso aberto à brisa


Gosto de sal na pele
Onda do mar revele
Imagens da trilha da imensa paisagem
Toda corrente é mansa
Teu coração me encanta
Menina da mará
Ainda é criança...

Em cima da prancha o mundo parece menor
Do porto da Barra ao feixe de luz do farol


Tanto mistério acontece
Quando o dia anoiteçe
Clara... é a hora em que a lua roça a ilha...

De volta para o Futuro




De Volta para o Futuro
(Back to the Future, 1985)
Por Rodrigo Cunha25/12/2005

Uma impressionante obra-prima dos anos 80 que tem de tudo: ação, comédia, romance, diversão e já é um clássico do cinema.


Os anos 80 foram palco de grandes clássicos da história do cinema. Muitas vezes subestimados no aspecto artístico, filmes como Os Goonies, Curtindo a Vida Adoidado, Os Garotos Perdidos, Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida e, é claro, De Volta Para o Futuro possuem muito mais do que apenas boas histórias: suas estéticas e conteúdos são exemplos perfeitos de que a arte e a diversão podem caminhar lado a lado quando os nomes por trás das obras são competentes o suficientes para tal.

Muito antes de sua consagração por Forrest Gump – O Contador de Histórias, Robert Zemeckis lançou seu melhor filme, a obra-prima que seria lembrada por muitos e muitos anos. Viajar no tempo sempre foi um tema fascinante, afinal, aproxima dois pólos distantes através de um único recurso, presente em qualquer ser humano: a imaginação. Imagine, então, reviver os grandes momentos da história, mas ao invés de livros e estudos, estar lá, presente, no local.

Steven Spielberg, na época já famoso por lançar suas principais obras-primas de início de carreira, resolveu apostar no roteiro escrito pelo próprio Zemeckis em conjunto de Bob Galé e produzir o longa. O resultado? Um dos filmes mais divertidos de todos os tempos, extremamente inteligente e com personagens marcantes – tanto heróis quanto vilões, todos são cativantes ao extremo e cheios de características próprias que os imortalizaram de imediato na história do cinema.

05 de Novembro de 1955

A história é espetacular e nos apresenta Marty McFly, um jovem normal, símbolo de sua geração, insatisfeito com seus pais (apesar de os amar), com uma bela namorada e perseguido no colégio pelo diretor, já que vive aprontando. É amigo do famoso Dr. Emmett Brown, um velho inventor considerado louco, que anuncia sua última e incrível invenção: a máquina do tempo.

A essa altura, todos já sabem o que acontece: devido a um imprevisto, Marty acaba indo parar no passado, exatamente na época em que sua mãe e seu pai se conheceram, e, por interagir com eles, acaba por alterar o futuro, pondo em risco sua própria existência. Com essa interferência, eles não se conheceram como deveriam e Marty passa então a sumir – sim, desaparecer! Disposto a não deixar que isso aconteça, ele ajuda seu pai a conquistar sua mãe, enfrenta a pose de Biff e ainda tenta arrumar uma maneira de retornar ao futuro!
O roteiro é perfeito e aproveita todas as oportunidades que seu tema propõe: Marty interage com seus pais, deve escapar da paixonite de sua mãe, deve enfrentar Biff, e como cada detalhe é explorado de maneira brilhante (onde, logicamente, não posso citar exemplos para não estragar a surpresa daqueles que ainda não viram o filme, se estes ainda existirem). Os diálogos são extremamente afiados, cheios de sub-textos e com um perfeito equilíbrio entre diversão e narrativa. Sempre levam o filme à frente, adicionam ao psicológico dos personagens e refletem em forma de palavra tudo aquilo que queríamos ver.
Não tenha a menor dúvida de que este filme é feito para ser visto muitas e muitas vezes, e a cada vez vista, novos detalhes serão descobertos. Perceba como cada mínimo detalhe serve para ligar presente / passado de maneira brilhante: a cidade, os moradores, o que não havia sido inventado... Há um problema ou outro quanto à lógica do longa, como por exemplo ficar sugerido que o cachorro do Doutor já existia 30 anos antes de 1985, mas como não é dito nada no filme, pode-se pensar na desculpa de que aquele cachorro que aparece em 1955 é apenas uma brincadeira. São míseros detalhes que não ganham nenhuma proporção perante ao complexo e bem construído mundo onde se passa a história.
De Volta Para o Futuro!

Se a história é complexa, detalhada e simplesmente cativante, a parte técnica teve de manter a altura do projeto para que tudo fosse crível e deixasse o público preso à história que estava sendo contada. O resultado é excelente e continua a funcionar mesmo depois de tantos anos de seu lançamento. Isso porque tudo é pensado, nada está na tela gratuitamente. Procure as ligações feitas pela arte, fotografia, direção com o futuro e verá que nada foi coincidência, nada foi por acaso.

As referências à época em que Marty vivia são explícitas e incrivelmente bem encaixadas: o que dizer, por exemplo, da aparição de Darth Vader? E a espetacular seqüência em que ele toca Chuck Berry e o diretor faz a brincadeira de que Berry poderia ter roubado a idéia da inovação de Marty? A todo o momento estamos sendo surpreendidos com pequenas brincadeiras como estas, rodeados por uma convincente construção de época, detalhada nas roupas, carros, costumes... Tudo funciona surpreendentemente bem.

A direção de Zemeckis merece um parágrafo à parte: sua sutileza na hora de apresentar o mundo de 85 para o público, sem subestimar nossa inteligência com narração, deixando que interpretemos cada tomada, e o modo como tudo muda em 55 é fantástico. A narrativa é leve, sempre para frente, sem se preocupar em explicar, cientificamente falando, as possibilidades de sua veracidade – por isso não considero a obra ficção, apenas com elementos da mesma. Por que, na verdade, não é isso que interessa para De Volta Para o Futuro. Temos de tudo: seqüências dramáticas, divertidas, ação, tudo balanceado e com efeitos especiais não para impressionar, apenas para tornar possível todos os elementos exigidos pela história.

O Delorean tem um design fantástico, e o modo como a história brinca com as possibilidades de se visitar o futuro são geniais – e exploradas de maneira ainda mais brilhantes e complexas no segundo filme da franquia. Quem, com mais ou menos mais do que vinte e cinco anos de idade, nunca quis ter um na garagem um dia? O efeito de foguinhos no chão tornou-se clássico de imediato, assim como diversas outras seqüências: a do relógio, a perseguição nas ruas, o baile... De uma ponta à outra, tudo o que você verá é necessário para a máquina interna e inesquecível para o público alvo.

O elenco foi uma daquelas peças fundamentais para tornar o filme imortal: desde Michael J. Fox até Crispin Glover, todos combinam perfeitamente com seus papéis e, assim como falei em outra certa crítica, deixou impossível imaginar outros rostos para tais papéis. Christopher Lloyd, como o Doutor Emmett Brown, é uma das figurinhas carimbadas da série e não poderia ter dado um tom mais certo ao seu personagem. Torço muito para que, se for mesmo realizado um quarto filme da série, todos aceitem retornar à seus papéis, e não que seja um mero remake com Michael J. Fox no papel do Doutor, como sugeriram alguns boatos.

E a trilha sonora? Uma das melhores da década: The Power of Love, Back in Time, Earth Angel, Johnny B. Goode, de Eric Clapton à Chuck Berry, a todo momento você estará sendo bombardeado pelas melhores composições que ambas as décadas têm a oferecer. Os efeitos sonoros também foram pensados com carinho, uma vez que detalhes importantes, como a viagem do Delorian e demais apetrechos sonoros deveriam ser adicionados ao longa. Som sempre preocupa, afinal, é peça fundamental de qualquer filme, e não é que tudo funciona? Quando tem que dar certo, parece que tudo ajuda e funciona mais do que deveria.

Finalmente de Volta

Quando tudo se resolve, temos a certeza de ter assistido a um dos filmes mais divertidos, cativantes e inteligentes de todos os tempos. Do início ao fim, uma aula de como se fazer cinema. Apesar de não parecer, é um prato cheio para todos que gostam de discutir sobre ciência, psicologia, ficção, viagem no tempo e muitos, muitos outros assuntos.

Parece ser fácil falar de um filme que se ama tanto, mas é impossível não ser parcial tamanha sua importância. Um filme bem realizado, completo, que mexe com todas as oportunidades que consegue criar. Se você ainda não assistiu a esta obra-prima, faça-o já. Vai ser uma experiência única, inesquecível e fascinante, assim como deve ser uma viagem no tempo de verdade. Pelo menos Robert Zemeckis nos faz sentir o gostinho de como poderia ser...

Por Rodrigo Cunha25/12/2005
-----------------------------------------------------------------------------------------------
Esta é a crítica mais interessante que já lí sobre este filme que é uma paixão desde pré adolescente

domingo, 17 de junho de 2007

Gibran

Ninguém pode conviver sozinho com a beleza que é capaz de perceber. E quanto a nós, que buscamos o Absoluto, e que construímos um jardim usando a nossa própria solidão, a Vida nos deixou a imensa paixão para aproveitar cada instante, com toda a intensidade.

Eu....
















Zélia Duncan - Verbos Sujeitos

Olhos pra te rever
Boca pra te provar
Noites pra te perder
Mapas pra te encontrar
Fotos pra te reter

Luas pra te esperar
Voz pra te convecerRuas pra te avistar
Calma pra te entender

Verbos pra te acionar
Luz pra te esclarecer
Sonhos pra te acordar
Taras pra te morder

Cartas pra te selar
Sexo pra estremecer
Contos pra te encantar
Silêncio pra te comover...

Música pra te alcançar...
Refrão pra enternecer...
E agora só falta você
Meus verbos sujeitos ao seu modo de

me acionar
Meus verbos em aberto pra você me conjugar
Quero...vou...fui...não vi...voltei...

Mas sei que um dia de novo eu irei


Tocando em frente

Maria Bethania - Tocando Em Frente

Ando devagar porque ja tive pressa
E levo esse sorriso porque ja chorei demais..
Hoje me sinto mais forte
Mais feliz quem sabe?
Eu so levo a certeza do que muito poco eu sei..
E nada sei..
Conhecer as manhas e as manhãs...
O sabor das massas e das maçãs...
É preciso amor para poder pulsar..
É preciso paz para poder sorrir..
É preciso chuva para florir..
Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha e ir tocando em frente..
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada
Eu sou...e pela estrada eu vou...
Conhecer as manhas e as manhãs...
O sabor das massas e das maçãs...
É preciso amor para poder pulsar..É preciso paz pra poder sorrir..
É preciso chuva para florir..Todo o mundo ama um dia..todo o mundo chora..
Um dia agente chega..o outro vai embora..
Cada um de nos compoe a sua historia..
E cada ser em si carrega o dom de ser capaz de ser feliz...
Conhecer as manhas e as manhãs...
O sabor das massas e das maçãs...
É preciso amor para poder pulsar..
É preciso paz pra poder sorrir..
É preciso chuva para florir..
Ando devagar porque ja tive pressa
E levo esse sorriso porque ja chorei demais..
Cada um de nos compoe a sua historia..
E cada ser em si carrega o dom de ser capaz...de ser feliz..